O ciclo menstrual no dia a dia da mulher
O ciclo menstrual acontece ao menos uma vez no mês com mais
da metade da população mundial e é tão natural quanto respirar ou piscar. Mesmo
assim ainda há um grande preconceito em torno da menstruação. Em 2015 o Fundo
das Nações Unidas para a Infância, a Unicef, realizou uma pesquisa que
apresentou como resultado que uma em cada três pré-adolescentes do sul da Ásia
não sabe nada sobre o ciclo menstrual. E, que cerca de 50% das meninas do Irã 10%
da Índia acreditam que a menstruação é uma doença.
O primeiro passo para desmistificar o assunto é tentar
entender o que acontece com o corpo da mulher durante este período que tem
início entre os dez a 14 anos – com termino entre os 45 e 50 anos. Mensalmente
o corpo feminino faz o processo de expulsão de um óvulo não fecundado, gerando
uma hemorragia, ou seja, a menstruação. A duração do ciclo menstrual costuma
ser de 28 dias, podendo variar de mulher para mulher, e é dividida em três
fases.
A fase folicular pode durar entre uma a duas semanas e é nesta etapa que o óvulo cresce e amadurece dentro do ovário. Junto com isso os ovários passam a produzir hormônios que desenvolvem o endométrio, uma camada responsável por revestir o útero. Ele se prepara para receber o óvulo no momento em que for liberado pelo ovário e para isso engrossa e fica repleto por vasos sanguíneos.
No 14° dia o óvulo amadurece e passa pelo processo de
ovulação, quando ele se separa do ovário, sai pela trompa de falópio e vai até
o útero. Se fecundando por um espermatozoide ele será implantado no endométrio
e todo o processo da gravidez tem início. Mas, caso isso não aconteça e não
haja fecundação, o óvulo morre em cerca de dois dias após ter saído do ovário e
é expulso.
A fase lútea acontece no período entre os dias 14 a 28 e é
quando o endométrio aumenta ainda mais a espessura, a quantidade e tamanho dos
vasos sanguíneos. A camada se torna tão grossa que o útero não consegue
sustentar todo esse peso e é então que acontece a hemorragia, ou seja, a menstruação.
Este processo pode durar de três até sete dias e é composto basicamente pelo
endométrio e o sangue das artérias.
É após essa última fase que o ciclo recomeça novamente. Vale
lembrar que mesmo sendo natural o período da menstruação pode apresentar
sintomas que prejudicam a qualidade de vida da mulher, transformando este
processo em algo incomodo e até doloroso. Cólicas, dores nas costas ou de
cabeça, sensação de náusea ou simplesmente mal estar são alguns dos sintomas
mais comuns sentidos ao longo da menstruação. Mas há mulheres que passam por
dores ainda piores.
Esse é o caso da Ana Carolina que sentia fortes dores para
menstruar desde a pré-adolescência. A jovem de 19 anos já testou diversos
anticoncepcionais para tentar sanar o incomodo, mas acabaram resultando em uma
série de efeitos colaterais ainda piores. “Era muito difícil, além de na época
eu ser pré-adolescente, era muita irritabilidade, tristeza e também tinha muita
acne. Lembro de um dia que cheguei a desmaiar na escola de tamanha a dor da
cólica. Até que eu comecei a tomar o anticoncepcional e todo esse problema
parou. Mas, por outro lado, o remédio acabou me dando efeitos colaterais ainda
piores. Emagreci muito, tive queda de cabelo e até escape”, relata a estudante.
Hoje a garota interrompeu o tratamento com anticoncepcional,
as dores estão mais leves, mas o ciclo continua desregulado. “Percebi que as
reações do remédio eram piores que a TPM. As dores são mais fracas e não fico
tão irritada. Com certeza prefiro estar assim a tomar anticoncepcional e não
ter TPM. Pelo menos é algo natural”, desabafa Ana. “Era muito difícil, além de na época eu ser pré-adolescente,
era muita irritabilidade, tristeza e também tinha muita acne. Lembro de um dia
que cheguei a desmaiar na escola de tamanha a dor da cólica. Até que eu comecei
a tomar o anticoncepcional e todo esse problema parou. Era tranquilo. Mas, por
outro lado, o remédio acabou me dando efeitos colaterais ainda piores. Emagreci
muito, tive queda de cabelo e até
escape.”
Endometriose
A endometriose é uma camada da menstruação, o endométrio,
que sai do útero e pode se implantar em diversas partes do corpo, sendo mais
comum da região pélvica: trompas, ovários, intestinos e bexiga. Quando não há
fecundação o endométrio é expelido e em alguns casos o sangue acaba migrando
para outro local, causando a lesão endometriótica. Geralmente é uma doença
difícil de ser diagnosticada, podendo levar até sete anos para ser descoberta.
Os principais sintomas da endometriose são dor e infertilidade.
De acordo a Organização das Nações Unidas, a ONU, mais de
170 milhões de mulheres em todo o mundo sofrem com a endometriose. No Brasil,
de acordo com dados da Associação Brasileira
de Endometriose, a doença atinge cerca de seis milhões de brasileiras.
Sendo que 10% a 15% das mulheres em idade reprodutiva podem vir a desenvolvê-la
e 30% possuem chances de ficarem estéreis. A causa desse comportamento ainda é
desconhecida, mas estudos já comprovam que mulheres que possuem familiares com
a doença tem uma maior chance de também ter endometriose.
A Michele Wanderlind também sofreu muito com as dores no
período menstrual. Foi ao procurar um médico e realizar um exame de sangue que
descobriu que tinha endometriose. “Já no exame de sangue apresentou os focos da
doença. Na época o médico também pediu uma ressonância para confirmar a
endometriose. Muitas mulheres não sabem que é possível descobrir por meio
dessas duas opções, é importante pesquisar mais antes mesmo de ir ao médico,
para poder esclarecer dúvidas quanto a esses exames”, relembra o caso.
Diferente de muitas mulheres que possuem a doença, a Michele
não teve problemas relacionados à infertilidade. “Quando eu solicitei para o
médico o exame, ele não acreditava que eu tinha a endometriose, até porque eu
tenho filhos, e um dos maiores sintomas é a infertilidade. Mas não é assim, a
gente se conhece e sabe quando tem alguma coisa estranha acontecendo no nosso
ciclo. Precisamos ter uma insistência maior, ter a consciência de pedir para
que o médico investigue um pouco melhor”, relata a jovem.
O diagnóstico da suspeita de endometriose é realizado por
meio de exame físico, ultrassom endovaginal, exame ginecológico, dosagem de
marcadores ou exame de sangue. Há casos em que a endometriose é tão profunda
que se faz necessário solicitar ressonância nuclear magnética e a ecocolonoscopia.
A endometriose é uma doença que tem tratamento, sendo
possível combater as fortes dores com medicamentos ou passando por uma
cirurgia. De acordo com o médico ginecologista Dr. Leandro Gugel, tudo
dependendo do caso da mulher. “As formas de tratamento dependem do objetivo a
paciente, ou seja, se ela vai nos procurar por dor ou infertilidade”.
No tratamento cirúrgico a endometriose é removida por meio
de uma cirurgia chamada laparoscopia. Neste procedimento e possível eliminar
apenas os focos da doença, mas em algumas situações mais complicadas, pode ser
necessário remover os órgãos pélvicos afetados pela enfermidade. Já o
tratamento com medicamentos é realizado por meio de analgésicos,
anti-inflamatórios, análogos de GNHR, Danazol e Dienogeste.
Para as mulheres que desejam engravidar é indicado que seja realizada
fertilização in vitro. Confira mais sobre o assunto no vídeo:
Atividade física e o ciclo menstrual
Mas e quando o problema não são as dores? A Emillin Honorato
nada desde os dez anos de idade e cresceu dentro das piscinas. Para ela é comum
ter que conciliar a menstruação com o esporte. A jovem atleta recorda que já
precisou emendar a cartela do anticoncepcional e até nadar com fortes dores,
mas nunca deixou de competir por isso. “Nadadora não tem como fazer o uso de
absorvente interno por conta do contato com a água acaba se tornando algo
perigoso. O maior vilão de fato é a cólica e a TPM. Não tem muito que fazer, é
preciso vir treinar ou competir. Os momentos mais difíceis são durante as
competições, pois é muito tempo esperando em arquibancada e até mesmo no
inverno, quando é muito frio e acaba piorando as dores”, relembra a atleta.
De acordo com a profissional de educação física, Ana
Cristina Huber, os atletas já estão acostumados a romper barreiras e desafios,
principalmente as mulheres, por isso o ciclo menstrual acaba não prejudicando o
desempenho esportivo. Ela ressalta que pode vir a acontecer, mas que a maioria
das atletas já está acostumada com a situação. “É importante à mulher entender
que durante o ciclo menstrual existem variações hormonais. Então, quando a
mulher está menstruada é comum sentir desconforto, cólica, dores nas costas e
de cabeça. A orientação nesse período é para que elas diminuam a intensidade e
variar o exercício. O importante é não parar e continuar treinando, porque a
gente sabe que o exercício físico também traz benefícios psicológicos”,
acrescenta a profissional.
Assim como a Emillin, a atleta de karate Laura Lokekan também
nunca precisou deixar de participar de alguma competição por conta das fortes
dores da menstruação. “Eu sofro com cólicas bem fortes. Às vezes preciso parar
os treinos, sentar, tomar um remédio, esperar fazer o efeito e ai assim voltar
a treinar. Também já aconteceram casos mais sérios de eu não conseguir vir
treinar. Mas, eu sempre evito não vir. A gente tem que pensar que as
competições não vão esperar pela gente. Tenho que adaptar e treinar da melhor
forma possível” relembra a karateca.
Ao contrário do que muitas mulheres imaginam não existem
alimentos que podem vir a diminuir os sintomas da tpm. Para a nutricionista
Julliane Volpato é preciso estar com uma dieta repleta de nutrientes durante
todo o mês, para que assim a própria saúde esteja encarregada de amenizar
algumas dores, “Na verdade o que importa é o equilíbrio nutricional, é ele que
vai fazer com que o organismo funcione de maneira mais adequada e que nós
mulheres consigamos passar por esse ciclo de uma maneira mais tranquila”. Confira mais no vídeo:
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